Arte moderna e culto ao Espírito Santo na inauguração de “Arquipélago”
Agência EFE
24-05-2015 Link da notíciaA coleção permanente de arte moderna e o culto ao Espírito Santo formam o eixo central da primeira exposição do novo Centro de Arte Contemporâneo das ilhas dos Açores, “Arquipélago”, aberta ao público este fim de semana.
“Pontos Colaterais”, como se titula a exposição, reúne quadros, esculturas, desenhos, fotografias, vídeos e instalações que poderão ser visitadas gratuitamente até ao próximo mês de agosto.
São quase uma centena de obras, de mais de 30 artistas nacionais e internacionais, divididas em duas temáticas: as do acervo da coleção do centro e as associadas ao culto ao Espírito Santo, a tradição mais arraigada no arquipélago luso, que serve de nexo entre as suas nove ilhas.
“O culto ao Espírito Santo é uma forma de fé que passa por todas as camadas da sociedade, é comum a todos e tem também um princípio de identidade nos Açores”, explicou à EFE o curador da mostra, João Silvério.
Por isso, para dar um fio condutor à exposição escolheu objetos que, além de serem usados para o culto, são peças de arte e, como tais, dão a essa prática “um refinamento artístico”.
Essas peças complementam a coleção permanente do centro, selecionada pela qualidade das obras mas também pela diversidade de disciplinas e a internacionalização da arte portuguesa num âmbito mais amplo que integra artistas de outras coordenadas culturais e geográficas.
“A ideia é mostrar a coleção mas levando em conta esse contexto que atravessa a comunidade. Podem trabalhar-se outros temas, mas o culto ao Espírito Santo está sempre aí”, incidiu.
As portuguesas Ana Vieira, Filipa César ou Catarina Branco, natural dos Açores, compartilham espaço com artistas internacionais de renome do californiano Christian Holstad, os sul-africanos Lawrence Lemaoana e Robin Rhode, o burquinês Saidou Dicko ou o argentino estabelecido no Brasil, Nicolás Robbio.
Robbio é, na opinião do curador, “um dos artistas mais importantes no panorama da arte atual no mundo” e está presente na coleção com uma obra “muito estimulante do ponto de vista do design”.
É um trabalho em corda colocado na parede, “quase uma escultura”, precisa o curador.
Também participa na coleção o americano com forte influência mexicana, Eduardo Sarabia, de quem destaca a sua forma de trabalhar a cerâmica “muito ligada às tradições mexicanas”.
A sua obra, intitulada “Se este mundo fosse meu”, é uma escultura de cerâmica pintada à mão que, segundo Silvério, está “imbuida de um certo espírito crítico mas irónico ao mesmo tempo” que provoca certa inquietação.
Entre as peças mais representativas da parte de arte sacra, reflexo da espiritualidade que guia toda a mostra, destaca-se uma coroa do Espírito Santo de 1846, cedida pelo Museu Carlos Machado de Ponta Delgada.
A apresentação oficial da exposição reuniu autoridades e artistas que, para celebrar o lançamento da programação do novo centro, compartilharam as típicas “Sopas do Espírito Santo”, uma das referências gastronómicas das ilhas, à base de carne, repolho e pão.
Isto foi feiro na sede do “Arquipélago”, uma obra de arte em si mesma, um espaço inaugurado no final do mês passado de março que se encontra na cidade de Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, e que figura entre os 40 selecionados para o Prémio de Arquitetura Contemporânea da UE Messe van der Rohe 2015.
O complexo integra edifícios novos e outros reabilitados numa área de perto de seis mil metros quadrados, onde antes havia uma antiga fábrica de tabaco e destiladora de álcool, ao norte da maior das ilhas dos Açores, e onde agora inicia a sua caminhada uma ‘fábrica das artes” com vocação transatlântica.