APRESENTAÇÃO
“LIVRO: POEMA – LIVRE”

Espetáculo

28 fev 2020

APRESENTAÇÃO

LIVRO: POEMA – LIVRE

Sara Vaz & Marco Balesteros

com Diogo Alvim, Tiago Barbosa, Zeca Iglésias

 

28 fev 2020

Black Box

21h30

 

Ingresso | Gratuito

 

O ARQUIPÉLAGO – Centro de Artes Contemporâneas, acolhe o novo projeto de Residência Artística de Marco Balesteros e Sara Vaz.

Projeto apoiado pela Fundação GDA e pela Fundação Calouste Gulbenkian.

Sinopse

LIVRO: POEMA-LIVRE pesquisa a relação entre o palco e o livro e tem como ponto de partida um projecto de investigação sob a forma de 5 EN­SAIOS — ENSAIOS PARA LIVRO-CARACTERE — #1 Da Imagem, #2 Do Som, #3 Do Texto ou Do Narrador, #4 Da Luz, #5 Do Corpo.

Cada uma destas linguagens foi abordada como um PERSONA­GEM — CARACTERE — jogando com o duplo sentido contido nesta pala­vra, por um lado, o símbolo tipográfico indivisível da escrita, por outro e em sentido metafórico “marca, impressão ou símbolo na alma”.

Das 5 investigações resulta uma BIBLIOTECA DE COISAS — Livros, fragmentos, gestos, dispositivos, rascunhos, páginas soltas, textos sem proveniência — à qual iremos agora aceder em LIVRO: POEMA-LIVRE.

LIVRO: POEMA-LIVRE investiga a obra seminal de E.M. de Melo e Castro, percursor da poesia concreta em Portugal, escritor, artista e performer. Revê-se na estreita relação que os OPERADORES ESTÉTI­COS mantinham com a linguagem, o livro, a instalação e a performance.

LIVRO: POEMA-LIVRE apresenta-se como um trítpico — 3 obras que se intersectam e que ressoam entre si — 1 espetáculo, 1 livro de artista e 1 instalação performativa.

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Notas Biográficas

DIOGO ALVIM
Diogo Alvim compõe música instrumental e electroacústica e desenvolve projectos de artes sonoras. Estudou arquitectura e composição em Lisboa e fez um doutoramento em composição e artes sonoras no Sonic Arts Research Center da Queen’s University Belfast. A sua investigação explorou diferentes relações entre música e arquitectura.
Apresentou trabalhos em vários contextos, dos quais se destacam: os 6º e 7º Workshops da Orquestra Gulbenkian para Jovens Compositores (2008 e 2009); Festival Música Portuguesa Hoje, no CCB em Lisboa (2008); Tribuna Internacional de Compositores (Unesco) em Paris, 2009; Festival Synthèse 2009, em Bourges; Prémio Jovens Músicos 2009 (encomenda da Antena 2/ RTP); Festival Música Viva 2013 (Miso Music); ICMC2012 Liubliana (com o colectivo Unlikely Places); Notation in Contemporary Music (Goldsmiths University, Londres, 2013); Ibrasotope#60 e Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (Brasil, 2014); Belfast Festival 2014 (com Matilde Meireles); Sonorities Festival 2015 (com o Royal String Quartet); Do Liminar#6 (Galeria Zaratan, Lisboa, 2016), Habiter l’exposition The House of Dust (CNEAI, Pantin, França).
Lecciona Artes Sonoras na Escola Superior de Artes e Design das Caldas da Rainha. Tem desenvolvido colaborações com artistas plásticos, artistas de som, coreógrafos e encenadores.

ZECA IGLÉSIAS
Estudou música e baixo elétrico na Escola de Jazz Luíz Vilas-Boas — Hot Club de Portugal.
Como músico participou nas peças Barulhada de Tânia Carvalho e Hurra, Arre, Apre, Irra, Ruh, Pum, Homenagem a Cristina de Pina de Luís Guerra. Foi também parte integrante do projeto musical Moliquentos e participou em diversas performances promovidas pela Associação Cultural Bomba Suicida.
Em 2011, após de um estágio profissional de seis meses no Teatro Nacional de São João, iniciou o seu percurso como técnico de palco e iluminador de cena.
Assina e circula, a nível nacional e internacional, com os trabalhos de iluminação Icosahedron, 27 Ossos, Reverso das Palavras, Síncopa, A Tecedura do Caos, Glimpse-5 Room Puzzle, Captado pela Intuição e Um Saco e uma Pedra — peça de dança para ecrã de Tânia Carvalho; Qqywqu’ddyll’o’, 1ª Dança de Urizen, Nevoeiro, Vento, Trovoada e Tundra de Luís Guerra; Pastiche de Luiz Antunes e Sérgio Diogo Matias; Kid as King e A Deriva dos Olhos de Bruno Senune; Hector de André Mendes; Mute e Dança de Materiais Inertes #3 — Movediço de Marta Garcia Cerqueira, Loop de Sérgio Diogo Matias, e E.le.men.to e Gesto Perante Os Desacatos Do Mundo de Bruna Carvalho .
Como diretor técnico trabalhou com Sofia Dias e Vitor Roriz, com Joana Von Mayer Trindade, e em eventos e apresentações promovidos pelo Forum Dança Associação Cultural e pelo O Rumo do Fumo.

TIAGO BARBOSA
Nasceu em 1970, em Lisboa. É licenciado em Teatro – ramo Actores/Encenadores pela ESTC. Trabalhou como actor e performer, em espectáculos de teatro e dança, sob a direcção de Miguel Castro Caldas, Gustavo Ciríaco, Nuno Gil, Jorge Andrade e Miguel Pereira, Ainhoa Vidal, Paula Sá Nogueira, Maria Gil, Dinarte Branco e Tiago Nogueira, Martim Pedroso, Mónica Calle, Bernard Sobel, Miguel Loureiro, Lúcia Sigalho, Francisco Alves, João Lourenço, Rita Natálio, Joclécio Azevedo, Vítor Hugo Pontes, Inês Jacques, António Pires, Catalina Buzoianu, Jorge Silva Melo, Adelino Tavares, Paulo Lages, Renata Portas, Marcos Barbosa e Edward Fão, entre outros. Na televisão, participou pontualmente em séries e telenovelas. Trabalhou em cinema com realizadores como Sandro Aguilar, Francisco Manso, Manuel Pradal, entre outros. Participou no projecto de arte e neuro-ciência “Raizes da Curiosidade”.
Encenou os espectáculos “A Grande Sombra Loira”, a partir de sonetos de Florbela Espanca, e “OLÁ, EU SOU O PAI NATAL”, com texto seu.

 

Sara Vaz tem vindo a afirmar o seu trabalho artístico num território transdisciplinar, colocando a linguagem do corpo numa intersecção com
outras linguagens, em particular a linguagem cinematográfica e a literatura, como modo de questionar e investigar uma ESCRITA CÉNICA e
coreográfica.
Marco Balesteros explora o livro como território expandido e performativo: a ideia de LIVRO-ENSAIO—o livro como espaço instigador e especulativo
em torno da produção de conhecimento e a ideia de LIVRO-OBJECTO-PARA-APRENDER—livro como espaço colaborativo e de jogo dialético, espaço de investigação/discussão e de escrita provisória.
A colaboração entre Sara Vaz e Marco Balesteros teve início em 2017. Desde então têm centrado o seu trabalho artístico em torno da relação entre o palco e o livro, na relação entre a escrita de palco e a edição, investigando o livro como outro espaço performativo e uma possível extensão do palco e o palco como espaço de escrita onde o actor/autor/performer inscreve o seu CARACTERE.

Em 2018 iniciámos uma investigação sob a forma de 5 ENSAIOS — ENSAIOS PARA LIVRO-CARACTERE (#1 Da Imagem, #2 Do Som, #3 Do Corpo, #4 Do Texto ou Do Narrador, #5 Da Luz). Cada Ensaio materializou-se numa obra cénica e num livro de artista. A investigação do Livro teve um papel decisivo na construção cénica e vice-versa — investigámos o livro como um espaço performativo e expandido. Abordámos cada uma destas linguagens (imagem, som, corpo, texto e luz) como um personagem — CARACTERE — jogando com o duplo sentido contido nesta palavra, por um lado, o símbolo tipográfico indivisível da escrita, por outro e em sentido metafórico “marca, impressão ou símbolo na alma”. Tomámos como um dos pontos de partida para a construção de cada ENSAIO PARA LIVRO-CARACTERE a obra grega de Teofrasto—Os Caracteres. Apropriámo-nos desta palavra CARACTERE numa tentativa de produção de um discurso artístico conjunto.

Tendo como ponto de partida este ano de investigação e esta linha artística discursiva iremos construir um ESPECTÁCULO e um LIVRO — onde cada CARACTERE, isto é, cada elemento cénico tal como a luz, o som, o corpo, o texto ou a imagem é requestionado na relação com os demais, não existindo por si só — descobrindo-se nos interstícios e combinações entre si—uma coreografia de CARACTERES que se afectam continuamente através das diferentes COMBINATÓRIAS das suas qualidades e atributos, potenciando um JOGO de sintaxe e de semântica.

“Grande parte do melhor trabalho que está a ser produzido hoje em dia aparece entre meios; Isto não é por acaso. O conceito de separação entre meios surgiu no Renascimento. A ideia de que uma pintura é feita de tinta sobre tela ou que uma escultura não deveria ser pintada parece característico do tipo de pensamento social — categorizar e dividir a sociedade em nobreza, com as suas várias subdivisões, pessoas sem nome, artesãos, servos e trabalhadores sem terra — a que chamamos a concepção feudal da Grande Cadeia do Ser.”

in SOMETHING ELSE PRESS NEWSLETTER,
Dick Higgins,
Vol. 1 Nº 1 — “Intermedia” (Feb. 1966)

Em 1965, Dick Higgins restaurou o termo INTERMEDIA para a língua inglesa, atribuindo-lhe uma nova dimensão ao reconhecer a dissolução das fronteiras entre os modos tradicionais de fazer arte e o campo aberto para novas formas que não podem ser compartimentadas. Foi com a Something Else Press (1963-74), um conjunto de publicações independentes com contribuições de artistas, tais como John Cage, Bertolt Brecht,
Gertrude Stein, Robert Filliou, entre outros, que Diggins reforçou o conceito de INTERMEDIA e redefiniu o modo como “o livro” poderia habitar esse “ESPAÇO ENTRE”.

Em LIVRO: POEMA-LIVRE pretendemos agora explorar a potência do ESPAÇO ENTRE, o espaço entre linguagens, as possíveis relações entre elas, explorando a INTERMEDIALIDADE e o HIBRIDISMO como princípios reguladores das nossas investigações que irão incidir sobre as relações RIZOMÁTICAS entre imagem, som, corpo, pintura, luz, sombra, texto e ruído; e reflexões tais como o loop e a diferença na repetição, o registo e o rasto, a inscrição do corpo na relação com a imagem em movimento e na história do cinema, o gradiente da luz, o visível e o imaterial, o fora de campo, o actor/operador e de que modo todas estas propriedades podem produzir CARACTERES actuantes em COMBINATÓRIAS num corpo de investigação performativo e relacional uno.

Interessa-nos a INTERMEDIALIDADE que assenta num modelo colaborativo e que visa convocar e reunir um conjunto de autores/actores distintos com um percurso profissional muito vincado e com uma vertente autoral muito própria—Diogo Alvim, Tiago Barbosa, Iana Ferreira, Sara Vaz e Marco Balesteros—numa combinatória improvável, construindo um corpo de investigação híbrido e de espectro abrangente, que irá recorrer à escrita no palco e encontrará a sua espacialidade no branco da página.

O recurso à herança da POESIA CONCRETA é uma das fundações deste projecto. Bebemos dela a exploração do texto e da palavra através da sua concretude, ou seja, a materialização da mesma sob a forma de arranjos espaciais tipográficos e semânticos, experimentações gráficas e fonéticas, a fisicalidade do papel e da tinta, a dobra e a mancha, as instalações e performances onde o actor, o som e o vídeo, a imagem e a luz dão corpo à palavra e ao texto e incorporam relações semânticas inesperadas.

E. M. DE MELO E CASTRO é um artista de referência da poesia visual/ concreta que nos interessa aprofundar e sobre o qual iniciámos a nossa investigação há um ano. Investigação essa que gerou princípios e guiões provisórios orientadores da linguagem cénica COREO-TIPO-GRÁFICA que em LIVRO: POEMA-LIVRE queremos instaurar.

MELO E CASTRO é talvez o autor português maior neste campo, a sua prática poética é transversal e tem sido enormemente pautada pelos princípios que pretendemos explorar e que elencámos, entre os quais uma teorização sistemática sobre a linguagem e sobre os diferentes meios. Na sua extensa obra, que carece ainda de uma enorme investigação no panorama nacional, cruzam-se múltiplas práticas e formas experimentais: a explosão grafémica e gráfica que combina a fragmentação da palavra com a espacialização da escrita alfabética e do desenho geométrico; o poema-objecto tridimensional e a instalação; a recombinação intermédia de escrita, som e imagem em movimento; a performance que inscreve a presença corporal, a INTERMEDIALIDADE da escrita poética que é explorada, associando palavra, som, imagem e animação numa constelação de possibilidades.

LIVRO: POEMA-LIVRE para além de estabelecer a relação entre palco e livro, existirá também enquanto instalação performativa, podendo dialogar com espaços tais como—museus, galerias, bibliotecas, livrarias, etc.
A instalação incidirá no LIVRO-OBJECTO e transportará alguns elementos da cena para o espaço expositivo—objectos-livro, imagens, sons, textos, sendo activada pelo corpo performativo. Ao levarmos o palco para o lugar expositivo e o lugar expositivo para o palco construiremos uma série de ecos constantes onde fragmentos ressoam, se multiplicam, se combinam e recombinam, jogando com a memória do espectador, gerando sempre novas e possíveis leituras.

“A primeira realidade é este texto que ainda não existe. Letra a letra ele surgirá probabilístico nos espaços retirados ao branco do papel pelo negro da escrita. Esta será portanto, sempre menor em área que o branco do papel. Por isso o papel manterá a sua irrealidade mesmo depois de escrito.”
E.M. de Melo e Castro in PROJECTO: POEMA-PROJECTO

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