Em quietude, a sentir o espaço
Sara Chang Yan
14 out. 2023 - 24 mar. 2024Exposição
Em quietude, a sentir o espaço
Sara Chang Yan
14 out. 2023 – 24 fev. 2024
Há uns anos, achei que se fosse para perto da natureza, poderia aprofundar o que procuro e acontece no desenho. E vim parar ao meio do oceano Atlântico, à Ilha do Pico, onde continuo a desenhar. Nesta exposição, volto aos desenhos em papel que fazia, quando estive aqui a primeira vez, mas também aos desenhos em madeira, mais recentes, e continuo a desenhar no espaço da sala, procurando uma espacialidade sem o contorno ou limite imediato de um objeto.
Parece ser sempre o mesmo desenho, porém este vai revelando mais, indicando “é mais assim”: o dentro e fora são um, um calor-fresco, a intuição, silêncio, palavra-verbo, um balanço de vários pontos de vista, sentir o estado interno como sendo direção de uma bússola, etc. No fundo, vou descobrindo o objeto assunto-movimento que faço ou estudo, através do desenho.
“Às vezes perguntam-me o que estou a desenhar.
Desenho algo real e aberto, não é um sólido.
Desenho uma situação que é inteira e infinita.
Desenho uma realidade que se vai descobrindo.
O desenho guia-me por noções da realidade, dentro e fora de mim.
Noto que existe em simultâneo, o impulso de desenhar, e uma vontade de vivenciar Deus.
Parece-me que estudo o ser, ou talvez a essência.
Ao estar presente, a sentir o espaço, parece existir uma espacialidade inerente ao espaço, onde a vida também acontece. E surgem gestos que pontuam, sentem e dão forma a uma qualidade do espaço.
O desenho acontece num traço a lápis sobre a superfície, mas também no contorno dobrado, no buraco que inclui o espaço envolvente no desenho, na densidade lumínica, na sombra, textura, etc., havendo uma dinâmica contínua entre o que acontece no espaço e as formas desenhadas que surgem sobre o espaço.
É como se invertêssemos o foco, não é tanto sobre o objeto, mas mais sobre um espaço, envolvente e inerente, que está ativo, e que pode dar forma ao objeto — tal como existe uma dinâmica entre nós e o espaço terrestre, em que ambos têm qualidades ativas. Mas também não é tanto sobre o gesto, é mais sobre um estado inerente ao ser, uma estrutura dinâmica invisível que pode anteceder o gesto, mas que também se forma com os gestos que faz. E, o desenho parece desenhar uma espacialidade imprevisível ou uma inteligência espontânea que atravessa tudo: o estado do desenhador, o gesto, o papel e o espaço envolvente.”
_ Sara Chang Yan
Biografia
Sara Chang Yan (Lisboa, 1982) licenciou-se em arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa, e formou-se em desenho no Ar.Co em Lisboa. Em 2015, foi distinguida com o Prémio Artes Visuais para Jovens Criadores, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Em 2016, foi selecionada para o Open Sessions 2016-2017 no The Drawing Center em Nova Iorque.
Exposições individuais:
“Lightmotif”, LaBF15, Lyon 2022;
“Estar em P”, Galeria Madragoa, Lisboa 2022;
“Sem Pressa de Chegar”, Galeria Boavista, Lisboa 2019;
“Um plano tangível e infinito”, Galeria Madragoa, Lisboa 2018;
“Escuto o Silêncio, Fala Inteiro e com Precisão”, Galeria Madragoa, Lisboa 2016.
Seleção de exposições coletivas:
“Bucket List” Galeria Madragoa, Lisboa 2023;
“Ver no Escuro”, Centro de Artes de Águeda 2023;
“Tisanas Infusões para tempos próximos”, Fundação Eugénio de Almeida, Évora 2022;
“Impluvium”, Galería Ángeles Baños, Badajoz 2022;
“Objectos Específicos Parte 1”, Coleção Figueiredo Ribeiro, MIAA Abrantes 2021;
“A Failed Entertainment #8”, De Porta a Porta da Ermida, Lisboa 2021;
“Mais Nada se Move em Cima do Papel”, Centro de Artes de Águeda 2020;
“O Desenho Incerto”, Colégio das Artes, Coimbra 2020, Quase Nada Art Gate, Lisboa 2020;
“Festa. Fúria. Femina. Obras da Coleção FLAD” Maat Central, Lisboa 2020;
“Studiolo XXI – Desenho e Afinidades”, Fundação Eugénio de Almeida, Évora 2019;
“Campo de Visão: Aquisições 2016-17”, Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, Lisboa 2018;
“Where Do We Stand? Two Years of Drawing with Open Sessions The Drawing Center”, Nova Iorque 2017.