IN(opeRA)VEL

de Sara Ross e Tiago Schwäbl

16 fev. 2025
18h00

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Ópera

IN(opeRA)VEL

de Sara Ross e Tiago Schwäbl

16 fev. 2025

18h00


 

Ingresso | 5 euros

Informação Bilheteira | Bilhetes à venda na receção do Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas [de terça a domingo, das 10h às 18h]

 


O Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas acolhe IN(opeRA)VEL, de Sara Ross e Tiago Schwäbl, com encenação de Joana Providência. Uma ópera contemporânea integrada no Festival Prolífica.

 

Anne Adams, 53, ouvindo compulsivamente Ravel, pinta em 1993 o quadro Unravelling Bolero. Aos 60, é-lhe diagnosticada afasia progressiva primária. Em 2007 morre sem palavras.

Maurice Ravel, 53, desafiado por Ida Rubinstein a compor um fandango, devolve-lhe, em 1928, um bolero. Nos anos seguintes vai perdendo os gestos e a fala. Em 1937 morre sem palavras.

IN(opeRA)VEL introduz a justaposição desta coincidência, que pode, inclusive, nem coincidir. É antes o vislumbre de um paralelismo — temporal, sonoro, obcecado, sintomático —, forçado aqui a partilhar o mesmo cronómetro decrescente. O vínculo entre Adams e Ravel estabelece-se no som e na ausência de palavras, no bolero e na consequência afásica que lhes aconteceu. Enquanto Anne Adams se refugia nas cores, Maurice Ravel encontra caminhos e sinais nos poemas lidos e decorados na sua juventude: Charles Baudelaire contribui com as palavras de Correspondences e L’albatros, que em si mergulham na imobilidade física e trazem a afasia no bico. O poeta morre em 1867, aos 46, afásico e hemiplégico. Assim se adensa a frágil ligação entre personagens, em formato de pseudo-herança, com eixo no Bolero de Ravel.

O maior crescendo da história da música surge agora invertido, acompanhando as personagens na sua cedência ao silêncio; no entanto, preservam-se a estrutura melódica e os trezentos e quarenta compassos em implacável contagem decrescente. Se, por um lado, o bolero proporciona o encontro temporal das personagens, por outro ativa o temporizador derradeiro: Adams e Ravel, advindos de universos expandidos em épocas diferentes, contorcem-se e vogam em conjunto sobre a matéria rítmica.

Mas esta convivência não será necessariamente seguida pelas personagens. Sobre elas, para além da inevitabilidade decrescente, pesa ainda a interferência de duas vozes externas que testemunham clinicamente a coincidência, polvilhando biograficamente este encontro não existente.

FICHA TÉCNICA

Música | Sara Ross

Texto | Tiago Schwäbl

Encenação | Joana Providência

Solistas | Nataliya Stepanska e Tiago Matos

Ensemble – Arquipélago Cromático

Dina Hernandez, flauta

Derek Aguiar, trompa

Joana Ribeiro, harpa

Leonardo Carvalho, caixa

Ana Paula Sousa, violino

Natália Ferraz, violoncelo

 

Duração 30′

NOTAS BIOGRÁFICAS

SARA ROSS

É compositora, natural dos Açores, e reside em Lisboa.

Em 2024, foi Jovem Compositora em Residência na Casa da Música. No mesmo ano, estreou a ópera Madrugada (Acto IV) (libreto de Marta Pais Oliveira; encenação de Daniela Cruz; dir. Jan Wierzba) e integrou o projeto participativo Sons de Uma Revolução (Conservatório Artallis de Loures e Fundação Calouste Gulbenkian), sob direção artística de Mikhail Karikis, com a obra “(na aridez dos dias) acredito na terra da possibilidade” (dir. Diogo Costa).

Da sua produção recente destacam-se Europa – metamorfoses de amor (Orquestra Filarmónica Portuguesa, cuja digressão terminou na Philharmonie Berlin), Of Ahmad (Ensemble Darcos), as óperas Ai, tu é que és o meu rapaz (Quarteto Contratempus), IN(opeRA)VEL (libreto de Tiago Schwäbl) e Margarida (Prémio Carlos Pontes de Leça, Operafest Lisboa 2020), e a música para o bailado algo_ritmo da dupla Hexa (Companhia Nacional de Bailado).

Foi Jovem Compositora Associada do Teatro Nacional São Carlos (temporada 2017/18) e Artista Residente no 43º Cantiere Internazionale d’Arte de Montepulciano (IT). Como arranjadora, colaborou no álbum Songs for Shakespeare de Maria João & OGRE Electric (2022); como produtora, editou o single To Hope, com Maria João na voz; como intérprete, criou o ciclo de canções Tale of Colors com Julia Ehninger (Alemanha). Colaborou regularmente com o Ensemble Juvenil de Setúbal (2014-2021). Obteve menções honrosas no Prémio Bernardo Sassetti (2019) e no concurso Miso Music (2009) e foi selecionada para a Mostra Nacional de Criadores (2014).

É cofundadora do FIO – Festival Informal de Ópera e do Festival Prolífica. Estudou música acusmática com Sebastian Castagna (Teesside University, UK) e composição com Luís Tinoco, Carlos Caires e António Pinho Vargas (ESML).

Em 2025, estreará uma opereta com libreto de Inês Barahona (Loulé), a obra A zebra, o burro, a mágoa e o tédio (encomenda Orquestra de Jazz do Hot Clube) e O meu nome é ópera (dir. Helena Vasques).

 

TIAGO SCHWÄBL (1985)

Criador de Bolha Gular – programa semanal de arte rádio na Antena 2 – e fundador do programa de rádio exploratório Hipoglote: entre a voz e a palavra na Rádio Universidade de Coimbra (RUC). Autor de quatro libretos de ópera: A Querela dos Grilos e Era uma vez eu alface com a compositora Fátima Fonte; Oráculos & Ladainhas com Sofia Sousa Rocha e In(OPE)RAvel com Sara Ross para o Festival Informal de Ópera (FIO) em Braga (2021), do qual foi coorganizador. Curador, com Fernando Matos de Oliveira, do Ciclo em Voz e Auralidade nas Artes Performativas (2024) no TAGV em Coimbra: oficina, passeio sonoro, dança, performance, instalação sonora. Doutorando em Materialidades da Literatura na FLUC. Curador, com Nuno Miguel Neves, da digressão por Évora, Guarda e Coimbra (2019) do poeta sonoro Jaap Blonk. Colaborador no blog VoxMedia: a voz na literatura, Espaço Crítica para a Nova Música do MIC e podcast Voxlit. Ainda: tradutor ocasional, músico passado e mediador cultural no presente. Em 2023 recebeu uma Bolsa de Criação Literária da DGLAB.

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