GEOMETRIA SÓNICA
mai 2018 a mar 2019Jornal Geometria Sónica PTJornal Geometria Sónica EN
Dossier Geometria Sónica / Sonic Geometry
GEOMETRIA SÓNICA
maio 2018 a março 2019
ARTISTAS | FRANCISCO JANES, FRANCISCO QUEIMADELA E MARIANA CALÓ, JONATHAN ULIEL SALDANHA,LAETITIA MORAIS, MANON HARROIS, MIGUEL LEAL, MIKE COOTER, PEDRO TROPA, PEDRO TUDELA, RICARDO JACINTO, SARA BICHÃO, TOMÁS CUNHA FERREIRA
O ARQUIPÉLAGO – Centro de Artes Contemporâneas, no âmbito da sua missão e serviço público, e a RTP, como operador de serviço público de Rádio e Televisão de Portugal, assinaram um protocolo que encerra uma parceria artística e cultural, no âmbito da criação de intervenções/objetos artísticos para a divulgação da Arte Contemporânea Portuguesa.
“Geometria Sónica” é um projeto, marcadamente, desenhado pela Residência Artística sustentada por uma Investigação através de um Património Audiovisual Único, que nos leva a uma Produção Artística Expositiva e Performativa. Os artistas do “Geometria Sónica” vão trabalhar a partir de um dos Grandes Arquivos Sonoros e Visuais do século XX de Portugal, o Arquivo Audiovisual DA RTP.
Nuno Faria e Nicolau Tudela são os curadores deste projeto, selecionando para o mesmo, artistas portugueses e estrangeiros, cujas obras e pesquisas incorporam o som, como material, ou como estrutura conceptual: Francisco Janes, Jonathan Uliel Saldanha, Laetitia Morais, Manon Harrois, Mariana Caló e Francisco Queimadela, Miguel Leal, Mike Cooter, Pedro Tropa, Pedro Tudela, Ricardo Jacinto, Sara Bichão e Tomás Cunha Ferreira.
Segundo o curador Nuno Faria, este “é um projeto que articula som e imagem, arquivo (documentação sonora e visual e experiência do lugar), residência, colaboração, investigação, exposição e performance.”, que ocupará todos os espaços do Arquipélago, nomeadamente a Blackbox, as residências artísticas, as células e as salas expositivas.”
O projeto “Geometria Sónica” arrancou com a “Exposição – Índice” e terá, ainda, mais três ciclos expositivos, resultantes das Residências Artísticas que decorrerão ao longo do ano.
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“ATMOSFERA” | Fátima Marques Pereira
Atmosfera
“O mundo é tão vasto, espaçoso,
O céu tão amplo e majestoso!
Tudo quer ver o meu olhar,
Mas não sei como o imaginar”.
Para me encontrar no infinito,
primeiro distingo, depois junto:
Grato está meu canto e seu lume
Ao homem que às nuvens deu nome.
Johann Wolfgang Goethe – O Jogo das Nuvens. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p. 79.
ARQUIPÉLAGO – CENTRO DE ARTES CONTEMPORÂNEAS
Palavras-Chave: Arquipélago; Atmosfera; Arte; Contemporâneo; Criação; Cidadão; Comunidade; Experimental; Identidade; Território; Lugar(es); Condição; Circulação; Troca; Partilha; Olhar; Sociedade; Espaço; Tempo; Reflexão; Rede(s); Parceria(s); Produção; Investigação; Inovação; Flutuação; Movimento; Crítica; Comunicação; Multiculturalidade; Universalidade; Diversidade.
GEOMETRIA SÓNICA – CONTEXTO E SINOPSE
No final do ano de 2017 quando estávamos a redesenhar a Programação para 2018 tínhamos sobre a nossa planificação várias questões incontornáveis e que, intrinsecamente, teriam que recair sobre a Conceptualização e a Formalização da Programação Artística do ARQUIPÉLAGO para o ano de 2018. Destacamos duas questões, que passo a enumerar:
- Orientação da Tutela, Direção Regional da Cultura, no desenho da Programação através da temática proposta: 2018 Ano Europeu do Património;
- Em Abril de 2018 o ARQUIPÉLAGO – CENTRO DE ARTES CONTEMPORÂNEAS comemora 3 anos. Considerámos que esta deveria ser a primeira data a Registar pelo percurso Programático Artístico nacional e internacional que o ARQUIPÉLAGO tem vindo a mostrar publicamente, sendo que deveria ser marcada através de uma comemoração que privilegie as grandes valências deste CENTRO DE ARTES CONTEMPORÂNEAS:
- ESPAÇO EXPOSITIVO E PERFORMATIVO
- PLATAFORMA DE CRIAÇÃO E PRODUÇÃO
- PLATAFORMA EXPERIMENTAL E DE INVESTIGAÇÃO
De facto, ao repensarmos e ao redesenharmos a Programação perante as questões mencionadas anteriormente, sentimos de imediato o Privilégio do Protocolo que estabelecemos com a RTP, RÁDIO E TELEVISÃO DE PORTUGAL, pois perante a temática proposta pela tutela, 2018 Ano Europeu do Património, tornou-se evidente para nós, que sendo o ARQUIPÉLAGO um CENTRO DE ARTES CONTEMPORÂNEAS que melhor poderíamos “oferecer” aos Artistas para trabalharem, do que um dos Grandes Arquivos Sonoros e Visuais do século XX de Portugal, o ARQUIVO AUDIOVISUAL DA RTP.
Desta forma nasceu o GEOMETRIA SÓNICA, projeto inicialmente sem nome, atribuído posteriormente pelo Curador convidado Nuno Faria. Pensámos que deveríamos estruturar um projeto a partir de pilares que cimentem uma dimensão plural, ou seja, que o mesmo tenha uma extensão cultural/patrimonial, uma extensão artística e uma extensão social. E, que o conceito do GEOMETRIA SÓNICA seja, marcadamente, desenhado pela RESIDÊNCIA ARTÍSTICA sustentada por uma INVESTIGAÇÃO através de um PATRIMÓNIO AUDIOVISUAL ÚNICO, que nos leva a uma PRODUÇÃO ARTÍSTICA EXPOSITIVA E PERFORMATIVA.
Convidámos o Curador Nuno Faria pelo seu percurso curatorial sobejamente reconhecido, e pela dinâmica que tem vindo a demonstrar com os Artistas Contemporâneos nacionais e internacionais enquanto Diretor Artístico do CIAJG – CENTRO INTERNACIONAL DAS ARTES JOSÉ DE GUIMARÃES.
Considerámos que, dado o privilégio e a importância de um projeto com a dimensão plural anteriormente referida, e que se desenvolve a partir do ARQUIVO AUDIOVISUAL DA RTP, o mesmo deveria ter um Co-Curador da RTP, RÁDIO E TELEVISÃO DE PORTUGAL. Neste sentido, convidámos o Nicolau Tudela, também pelo seu percurso profissional, e particularmente pelo trabalho de proximidade com a Arte Contemporânea Portuguesa que tem vindo a desenvolver na RTP, enquanto Curador para “rebrand da imagem RTP 1”, onde foram apresentados trabalhos de Vhils, João Paulo Feliciano e Fernanda Fragateiro.
GEOMETRIA SÓNICA é um projeto com uma singularidade artística, cultural e social únicas, porque, quer em termos conceptuais, quer em termos formais alcança uma amplitude que vai muito para além de um mero momentum expositivo e performativo, não só porque o cerne da Produção Artística centra-se no ARQUIVO DE SOM E IMAGEM DA RTP, mas também porque os Artistas vão trabalhar a partir de uma Memória Sonora e Visual, que por si só já faz parte da Memória de Portugal, produzindo eles próprios uma ou mais peças com um estatuto de transitoriedade temporal e espacial que potencia e expande, por um lado a História da Imagem e do Som do século XX em Portugal, e por outro metamorfoseia objetos imagéticos e sonoros em Arte Contemporânea. E, assim, se vai construindo a Contemporaneidade, relevando e revelando o Presente e o Futuro, nunca esquecendo as Referências, o Passado.
GEOMETRIA SÓNICA é um projeto de Arte Contemporânea que trabalha entre outros Conceitos, A Imagem e o Som em Memória de Memórias. Os séculos XX e XXI libertaram a imagem de narrativas exclusivas, de leituras encarceradas dentro dos seus próprios objetos e lugares, permitindo “reapropriações”, “resignificações” e reinterpretações criando, inclusivamente novos ou renovados “universos”.
Ao Programar este projeto GEOMETRIA SÓNICA, pensámos, também, numa série de questões que dialogam diariamente com o nosso quotidiano pelo lugar onde estamos inseridos, e pela condição arquipelágica que o mesmo não nos faz esquecer. Por isto, a Atmosfera está tão presente nas nossas vidas. Por isto, para nós que estamos Aqui:
“O mundo é tão vasto, espaçoso,
O céu tão amplo e majestoso!
Tudo quer ver o meu olhar,
Mas não sei como o imaginar”.
Por isto, pensámos, enquanto espaço artístico, no nosso desejo de uma Produção Artística que atue muito para além da Paisagem, muito para além da geomorfologia e que acima de tudo atue numa total liberdade conceptual e formal. Aqui, os sentidos são a constante,
“Dispomos de cinco sentidos com os quais experimentamos e saboreamos o nosso ambiente. A visão é provavelmente o sentido mais desenvolvido, embora a nossa audição seja mais afinada do que imaginamos. Devido ao ambiente visualmente orientado em que vivemos, prestamos pouca atenção à nossa audição e não reconhecemos o seu valor. Quando ficamos temporariamente privados da nossa visão, percebemos o quão refinada pode ser a perceção auditiva. A audição possui um senso de correspondência espacial diferente da visão. Olhamos diretamente para o que vemos e ligamos esta impressão às imagens previamente armazenadas na nossa memória. A perceção espacial resulta da leitura sequencial destas imagens, semelhante à sequência de quadros que compõem um filme. […].”[1]
Fátima Marques Pereira
[1] Julia Schulz-Dornburg – Arte e Arqitectura nuevas afinidades. Barcelona: editorial Gustavo Gili, SA, 2002, p.64. //
Geometria Sónica_Exposição Índice
energia — frequência — forma
Exposição-Índice apresenta o elenco de artistas que, no âmbito do projecto Geometria Sónica, trabalharão a partir do contexto institucional do Arquipélago — Centro de Artes Contemporâneas em diferentes plataformas físicas e conceptuais. Ao longo de cerca de um ano estes treze artistas estarão envolvidos com o Arquipélago, a Ribeira Grande e a Ilha de São Miguel num projecto amplo e complexo que articula três entidades distintas — território, arquivo, espaço expositivo — e que se declina em várias dimensões do processo criativo, tais como, residência, investigação, produção, exposição, performance.
O projecto reúne artistas portugueses e estrangeiros cujas obras e pesquisas incorporam o som, como material, ou como estrutura conceptual. Todos eles fundam o trabalho numa sólida base de pesquisa e de experimentação. A escolha do elenco baseou-se, em primeiro lugar, na sensibilidade colaborativa e, em segundo lugar, na relação que o trabalho de cada um estabelece com as características do arquipélago dos Açores, cuja a origem vulcânica, a ressonância cósmica, a presença intensa e diversa da natureza (enquanto imanência e enquanto sentimento) exerce um forte apelo sobre os mais diversos criadores e pensadores.
Do ponto de vista filosófico, o projecto é influenciado por alguns pensadores que desenvolveram e problematizaram os conceitos de arquipélago, migração e miscigenação, tais como Édouard Glissant (um dos mais importantes e influentes pensadores da contemporaneidade, desaparecido em 2011), que desenvolveu a noção de crioulização cultural; Emanuelle Coccia, cujo recente livro “A vida das plantas: uma metafísica da mistura”, particularmente apropriado para pensar a relação da entidade humana com a entidade natural; Agostinho da Silva, que pensou de forma visionária a questão transatlântica e dos fluxos culturais que se vão desenvolvendo entre continentes e povos; ou, ainda, Vitorino Nemésio, cujo conceito de Açorianidade será central à reflexão engendrada pelo projecto.
Trata-se de um projecto que foi concebido para integrar e cumprir as diferentes valências do Arquipélago, quer em termos do espaço expositivo e performativo, quer no que concerne à sua missão (produzir e trazer conhecimento à população da Ilha e do Arquipélago, mas também exportá-lo para outras paragens). É um projecto inovador que explora de forma inédita o maior arquivo audiovisual nacional, o arquivo da RTP, cujo horizonte de existência se confunde com a formação de um sentimento de pós-modernidade e de contemporaneidade em Portugal. É, finalmente, um projecto de criação, realizada a partir da residência na Ilha (ou ilhas), e de apresentação e diálogo com a comunidade.
Geometria Sónica pretende tematizar a importância do som na construção da nossa presença no mundo. As sociedades animistas, por exemplo, utilizam desde tempos imemoriais, o som, nomeadamente certos ritmos e frequências, para curar ou para atingir níveis de hiper-consciência.
O projecto propõe pensar a relação entre determinados padrões ou frequências sonoras e a criação de estruturas arquétipicas do pensamento e da arquitectura, tais como monumentos antigos edificados em diferentes lugares do mundo. As civilizações antigas construíam a partir da observação do Cosmos e acredita-se que, também, a partir da harmonia e ressonância sonora do Universo. É nesse pressentimento intemporal de que todos os seres são ligados por uma consciência global e colectiva que o projecto agora apresentado se funda.
Nuno Faria – Curador
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arquivar
Guardar em arquivo.
Coleccionar, guardar.
Conservar na memória.
in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
“O arquivo audiovisual da RTP constitui-se como um verdadeiro repositório da memória coletiva nacional, (…)um património cujas origens remontam ao início das emissões regulares da Rádio e da Televisão, respetivamente em 1936 e 1957.
O seu acervo reúne diferentes suportes e formatos e uma grande diversidade de conteúdos, da ficção ao documentário, que vão da informação ao entretenimento, do institucional ao desporto”.
(…)” A sua permanente salvaguarda, valorização e acesso público têm sido objetivos estratégicos da RTP, no cumprimento da sua missão de serviço público de rádio e televisão”.
In “arquivos.rtp.pt”
Mergulhar no universo e património da RTP,
Revisitar as reservas na sua existência pré-digital, registos áudios visuais de radio e televisão, abrem e sublinham a importância da RTP a introduzir discursos artísticos nas programações dos seus canais, bem como o estimular a experimentação no campo das artes em televisão.
A RTP continua assim a apostar num espaço (curadoria) dedicado à divulgação das artes plásticas contemporâneas e promoção dos artistas plásticos e autores musicais portugueses.
Nicolau Tudela – Curador
NOTAS BIOGRÁFICAS
Nuno Faria (Lisboa, 1971)
Curador. Atualmente é diretor artístico do CIAJG – Centro Internacional das Artes José de Guimarães.
Entre 1997-2003 e 2003-2009 trabalhou no Instituto de Arte Contemporânea e na Fundação Calouste Gulbenkian, respetivamente. Viveu e trabalhou no Algarve entre 2007 e 2012 onde, entre outros projetos, fundou (em Loulé, em 2009) o projeto Mobilehome – Escola de Arte Nómada, Experimental e Independente.
É professor na ESAD – Escola de Artes e Design das Caldas da Rainha.
Nicolau Tudela (Viseu, 1961)
Diretor de Arte e Responsável da Área de Grafismo RTP – Rádio Televisão de Portugal.
Licenciado em Artes Plásticas-Pintura (FBAUL, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa).
Entre vários trabalhos gráficos e audiovisuais, é o autor da ideia e da imagem para o Eurovision Song Contest (ESC Lisbon 2018).
Curador para “rebrand da imagem RTP 1”, trabalhos em conjunto com Artistas: Vhils, João Paulo Feliciano e mais recentemente Fernanda Fragateiro, e autores musicais, Bruno Pernadas, e Noiserv.
Formador na área criativa e grafismo em Timor Lorosae (RTTL – Rádio e Televisão Timor Lorosae), e Moçambique, para a TVM (Televisão Nacional de Moçambique). (2010, 2011, 2012, 2013).
É Professor Adjunto Convidado Instituto Politécnico (ESEV – Escola Superior de Educação), Viseu.
Expõe regularmente desde 1982.
De 1980 1985, Bolseiro de Estudo da Fundação Calouste Gulbenkian.